Saturday, March 18, 2006

Caro Sr. Felipe Oviedo,

Era um belo dia, as folhas esvoaçavam pelo céu e meu rosto se cobria de neve.A neve normalmente me traz a idéia de um dia triste, mas aquele não era.O sol aparecia tímido entre as muitas nuvens que cobriam o céu.Era um dia feliz porque eu estava feliz, ao contrário de hoje e de muitos outros dias desde então.Não durmo, não como, não faço nada além de pensar em uma única razão de viver uma vida doentia.Naquele dia, era diferente.Tudo estava belo, o capim fresco cheirava como nunca e cada flor do campo (se é que havia flores) era diferente quando olhada diferente.Tudo estava perfeito, mas já acabou.Nem bem sei ao certo porque acabou.Talvez o destino goste de nos pregar peças quando a gente menos espera, mas POR QUE NAQUELA HORA?
De uma hora para outra, tudo mudou.Nem sei porque escrevo isto se bem sei que seu coração já não se amolece com meu amor doentio.Quando o vi entrar por aquela velha porta de madeira de lei, senti que o destino começava a se fazer louco.Todas as coisas que antes eram belas se tornaram confusas, todos os amores que ora me faziam feliz, ora me atormentavam se tornaram esquecidos e um estranho e intenso sentimento de medo e felicidade acabava por me tomar.Então, entendi o que era aquela coisa estranha que os poetas chamam de amor.
Com o passar dos dias, sua presença se tornava essencial para minha sobrevivência.Minha alma necessitava de alguns minutos em sua presença para que recobrasse energia.Por algum tempo, pensei que seria suficiente.Não era.Aqueles poucos minutos já não me bastavam, pois meu amor crescia a cada encontro.Era indispensável escutar sua voz enérgica sendo suavemente sussurrada em meu ouvido, sentir seu perfume natural e desfrutar de companhia tão agradável.
Talvez você, como eu, não soubesse onde tudo isso iria parar.Talvez você não entenda como é bom e ruim amar alguém.Bom é por sentir-se vivo, é por aprender que não há vida sem troca e que a minha vida precisava da sua.Ruim por sentir que a perda pode causar amargura dentro de um único coração.Amor não se separa de dor.Meu amor é tal que não sei mais se gosto de amar ou de sofrer.
Há pouco me dei conta de que faz três anos.
No dia do meu casamento, meus olhos procuravam por você dentro daquela sinistra igreja e não encontraram.Desde aquele momento comecei a refletir se realmente teria valido viver todo um amor por um homem que não o reconhece.Em poucos dias, soube de seu casamento com uma senhorita filha de portugueses.Pensei em procurá-lo várias vezes, mas tais acontecimentos me impediam.
Não espero respostas suas, nem desculpas.Na verdade, escrevo-lhe porque sinto que é uma dívida com a minha alma e não estou mais impedida por meu marido, considerando o falecimento há algumas semanas.Deixo claro todos os meus sentimentos.Bem sei, como já disse, que seu coração não se amolece mais, principalmente depois da morte de tal senhorita portuguesa.Simplesmente, considero importante livrar-me dessas palavras porque um amor, por mais doloroso que seja, vale a vida que tenho levado até hoje.

Agradecida pela atenção,

Sra. Hernández

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