Do que é feita a loucura

"Bate o amor a porta da loucura".
Que esperas que peça? Pede abrigo, um pouco de compaixão do semelhante.
Engana-se, agora, aquele que pensa na contradição dos dois.
Filhos da mesma mãe. Impedidos, porém, de habitar a mesma casa.
***

Minha loucura é feita de espera.
E de olhares nada discretos para a porta,
que teima em não se abrir.
Minha loucura é medida no compasso do relógio,
que determina as batidas do meu coração.
É o entusiasmo ao ouvir aquele nome, inominável.
De hipocrisia. De falsidade. De comedimento. De contrariedade.
E pulsa em cada lágrima não chorada,
em cada indício de dor que não pode sair.
Efeito da sanidade, infelizmente recuperada.
E todos aqueles olhares
ora de deboche, ora de cumplicidade
que agora passam a incomodar.
Minha loucura é feita de coração apertado.
Da certeza do nunca-mais-ver.
Dos sonhos inacabáveis, das imagens inapagáveis, das mãos trêmulas escrevendo de quem eu nem conheço.
Ela existe na ilusão,
nesse "mundo que inventei pra me distrair".
Ele também existe lá.
Como tantos e tantos outros.
(E, contrário ao meu desejo, não posso dar a atenção que queria, menino.
Você não passa de mais uma das minhas criações,
ainda que isso soe meio prepotente.)

***
Rebeldes a todas as regras do mundo e do tempo, hoje, loucura e amor estarão sob o mesmo teto.
Hoje, menino, você é meu tudo.
E tudo o que quero é fechar os olhos na certeza de que não haja mais histórias amanhã.
Engano-me.



(Minha loucura é feita de textos mal escritos no impulso das mãos de fazer o coração falar. Engano-me mais uma vez.)